Caso Marielle: Ronnie Lessa depõe ao STF sem os irmãos Brazão

O ex-policial militar Ronnie Lessa, preso por matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, começou a prestar depoimento, na tarde desta terça-feira (27), como testemunha no processo que envolve os acusados de serem os mandantes do crime. O assassino confesso presta depoimento sem a presença dos réus, a quem ele define como pessoas de alta periculosidade.

Lessa presta depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) por meio de videoconferência e, inicialmente, todos os réus no processo deveriam acompanhá-lo. Estes réus incluem Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ); Chiquinho Brazão, deputado federal; Rivaldo Barbosa, delegado de Polícia Civil; Robson Calixto Fonseca, o Peixe, ex-assessor de Domingos no TCE; e Ronald Paulo Alves Pereira, major da PM.

Os irmãos e o delegado planejaram o crime e agiram como mandantes. Além disso, Rivaldo ainda teria tentado obstruir as investigações. Por outro lado, Robson e Calixto foram apontados como responsáveis por monitorar Marielle e, consequentemente, planejar o atentado.

Antes de Ronnie começar a falar, o advogado Saulo Carvalho, que representa Lessa, solicitou que os réus deixassem a videoconferência e não assistissem à sessão, ficando apenas suas defesas. O ex-PM justificou o pedido dizendo que todos são pessoas de alta periculosidade, comparando como ele mesmo.

“Não estamos lidando com pessoas comuns. São pessoas de alta periculosidade, assim como eu fui. São muito perigosos, mais do que se possa imaginar”, comentou.

O juiz Airton Vieira, que preside a audiência do STF, aceitou o pedido. Pela ordem processual, o primeiro a fazer as perguntas a Lessa é o representante da Procuradoria Geral da República (PGR), o promotor Olavo Pezzotti. Depois, os questionamentos partem dos assistentes de acusação das famílias de Marielle e de Anderson e, por último, os advogados dos réus.

Delação premiada de Ronnie Lessa

Um dos aspectos previstos para serem abordados no depoimento é a delação premiada de Ronnie Lessa. Ele acusou os irmãos Brazão como mandantes do crime e apontou a participação do delegado Rivaldo Barbosa.

Segundo Lessa, Domingos e Chiquinho ofereceram 10 milhões de dólares, o equivalente a mais de R$ 50 milhões, pela morte da vereadora. Na proposta, seu comparsa, o ex-PM Edimilson de Oliveira, conhecido como Macalé, receberia o mesmo valor. Ou seja, juntos eles ganhariam mais de R$ 100 milhões pelo assassinato.

“Era muito dinheiro envolvido. Na época, daria mais de 20 milhões de dólares. A gente não está falando de pouco dinheiro […] ninguém recebe uma proposta de receber dez milhões de dólares simplesmente para matar uma pessoa. Então, na verdade, eu não fui contratado para matar Marielle como um assassino de aluguel. Eu fui chamado para uma sociedade.”

De acordo com o relatório da Polícia Federal, o primeiro encontro entre os envolvidos para tratar sobre o assassinato ocorreu em 2017, quando os irmãos Brazão contrataram Macalé, que atuava na Zona Oeste do Rio e era próximo aos mandantes. Em seguida, o ex-PM convidou Ronnie Lessa para participar da empreitada criminosa, e as armas e os veículos usados no crime foram providenciados.

Lessa revelou que teve três encontros com os mandantes, todos a noite em um lugar escuro da Barra da Tijuca, na Zona Oeste, onde na maioria das vezes Domingos falava mais, enquanto Chiquinho apenas concordava.

Lessa reforça a participação do delegado da morte de Marielle

Sobre o delegado Rivaldo Barbosa, Lessa reforça que desde o início Domingos Brazão informou a participação do então chefe da Delegacia de Homicídios da Capital.

“Falaram o tempo todo que o Rivaldo estava vendo, que o Rivaldo do já está redirecionando e virando o canhão para outro lado, que ele teria de qualquer forma que resolver isso, que já tinha recebido pra isso no ano passado, no ano anterior, ele foi bem claro com isso: ‘ele já recebeu desde o ano passado, ele vai ter que dar um jeito nisso’. Então ali, o clima já estava um pouco mais tenso, a ponto até mesmo na forma de falar”, relatou Lessa.

Dentro dessa narrativa, os irmãos disseram que o assassinato não poderia partir da câmara dos vereadores, por exigência do delegado. “Não pode porque o Rivaldo não quer”, diziam.

Um dia antes do crime, Rivaldo Barbosa se tornou o chefe de polícia do Rio e um dia depois do assassinato, nomeou o delegado Giniton Lages para comandar a Delegacia de Homicídios.

No relatório da investigação, a Polícia Federal afirma que a escolha de um homem de confiança serviu para que os trabalhos de sabotagem se iniciassem no momento mais sensível da apuração do crime. Os investigadores dizem ainda que Rivaldo e o delegado escolhido por ele só prenderam os executores por pressão imposta pela sociedade e pela mídia – e para preservar os autores intelectuais.

Fonte: O Dia