A influenciadora e mulher do MC Poze, conhecida como Vivi Noronha, é alvo de uma operação da Polícia Civil, na manhã desta terça-feira (3), contra o núcleo financeiro do Comando Vermelho, responsável pela lavagem de mais de R$ 250 milhões. Segundo investigações, os valores vêm do tráfico de drogas e da aquisição de armamentos de uso restrito. Na ação, os agentes cumprem mandados de busca e apreensão na residência do casal, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste, em outros pontos do Rio e também em São Paulo.
A operação inclui ainda ordens de bloqueio e indisponibilidade de bens e valores de 35 contas bancárias. O esquema criminoso utilizava pessoas físicas e jurídicas para dissimular a origem ilícita dos valores, promovendo o reinvestimento em fuzis, cocaína e na consolidação do poder territorial da facção em diversas comunidades.

De acordo com a Polícia Civil, a apuração revelou que Vivi Noronha e sua empresa figuram como beneficiárias diretas de recursos da facção, recebidos por meio de pessoas interpostas (“laranjas”) com o objetivo de ocultar a origem ilícita do dinheiro. As análises financeiras apontam que valores provenientes do tráfico de drogas e de operadores da lavagem de capitais do CV foram canalizados para contas bancárias ligadas à mulher, que passou a ser um dos focos centrais do inquérito.
A posição dela, segundo os agentes, na estrutura criminosa é simbólica, pois representa o elo entre o tráfico e o universo do consumo digital, “conferindo aparente legitimidade a valores oriundos do crime organizado e ampliando o alcance da narcocultura nas redes sociais.”
‘Professor’ é apontado como liderança do esquema
As investigações identificaram ainda Philip Gregório da Silva, o “Professor”, como uma das figuras centrais da engrenagem financeira do Comando Vermelho, responsável por eventos como o “Baile da Escolinha”, que funcionava como ferramenta de dominação cultural e captação de recursos para o tráfico de drogas e armas.
O criminoso morreu neste domingo (1º), baleado na cabeça. Apesar disso, mesmo com sua morte, a Polícia Civil reforça que permanece clara sua importância dentro do esquema, sobretudo na consolidação da cultura do tráfico e na estruturação de empresas de fachada para dar aparência de legalidade ao dinheiro sujo.
Empresas ligadas a lavagem de dinheiro
As investigações apontam também que um restaurante situado estrategicamente em frente ao local onde é realizado o “Baila da Escolinha” funcionava como ponto de lavagem de dinheiro, movimentando recursos provenientes do tráfico sob a fachada de atividade empresarial lícita. O local era utilizado como polo logístico e símbolo de poder da facção, conectando a vida noturna da comunidade à engrenagem financeira do Comando Vermelho.
Outra empresa com papel relevante no esquema é uma produtora identificada como operadora de lavagem de dinheiro e fomentadora de bailes funk promovidos por integrantes da facção, que funcionavam como ponto de venda de drogas e difusão da narcocultura. As investigações revelaram que o responsável pela firma e a própria empresa figuram como destinatários diretos de recursos financeiros oriundos de operadores do Comando Vermelho, recebendo valores de pessoas físicas e jurídicas interpostas com o objetivo de ocultar a origem ilícita dos lucros do tráfico.
Entre os remetentes identificados nas análises financeiras, destacam-se um segurança pessoal do traficante Edgar Alves de Andrade, o “Doca”, chefe da facção no Complexo do Alemão, e outro indivíduo com histórico relevante no sistema financeiro informal ligado à facção, e procurado pelo FBI por suspeita de atuar como operador de valores para a Al-Qaeda, conforme dados de cooperação internacional.
A ação desta terça (3) é realizada por agentes da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) e do Departamento-Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro (DGCOR-LD).
Prisão MC Poze
O cantor Marlon Brandon Coelho Couto, o MC Poze do Rodo, foi preso na última quinta-feira (29), por apologia ao crime e suspeita de envolvimento com a facção criminosa Comando Vermelho (CV). Os agentes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) o encontraram em casa, no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio.
Nesta segunda (2), o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) concedeu um habeas corpus ao funkeiro. Na decisão, o desembargador Peterson Barroso Simão, da 1ª Vara Criminal da Região de Jacarepaguá, alegou que a prisão temporária do MC é “excessiva para o prosseguimento das investigações” e que as provas coletadas são suficiente para a continuidade da apuração do caso. O magistrado acrescentou que não há, até o momento, comprovação de Poze tinha “armamento, drogas ou algo ilícito em seu poder”.
No entanto, para conceder o habeas corpus, o desembargador determinou uma série de medidas cautelares, que deverão ser seguidas por Poze. São elas: comparecer mensalmente em juízo, até o dia 10 de cada mês, para informar e justificar suas atividades; não deixar o Rio; informar telefone para contato imediato caso seja necessário; não ter contato com outros investigados no inquérito ou com pessoas ligadas ao CV; entregar o passaporte.
Poze deve deixar o presídio, em Bangu, ainda nesta terça-feira (3).