Quem ainda não conhece a obra de um dos geniais brasileiros que pisaram na Terra, Ariano Suassuna, não deveria esperar mais tempo para fazê-lo.
É dele a frase acima, e ilustra bem a guerra de números que se anuncia com a chegada da campanha eleitoral.
Hoje, o renomado economista campista, José Alves de Azevedo Neto, resolveu mostrar suas armas, talvez para dar algum alento à candidatura iminente do seu irmão Jefferson, ex-Reitor do IFF Norte Fluminense.
Até ontem, Jefferson Azevedo estava no banco de reservas, enquanto o PT tentava empurrar a candidatura da deputada estadual, e ex-prefeita de SJB, Carla Machado, impedida por ter sido diplomada por dois mandatos na cidade vizinha.
Pois bem, o economista José Alves, descende do Prefeito José Alves de Azevedo, que dá nome ao centro administrativo da prefeitura de Campos dos Goytacazes, e salvo engano, a uma avenida importante na cidade, ou seja, ele tem “pedigree” político.
O que ele não parece ter é apego à ciência na qual atua.
Tocou as trombetas para alardear que Campos dos Goytacazes tem quase uma Macaé de pessoas na linha da pobreza.
Bem, não se pode negar os números, certo?
Nem sempre.
Nem José Alves poderia usar essa ênfase, quando ele mesmo se desmente no seu próprio espaço de divulgação, o seu blog.
É que lá naquele espaço, onde se lê que Campos tem esse número de pessoas inscritas no CadÚnico, também podemos ler outras coisas, que sabe-se lá porquê, o economista deixou de citar, demonstrando um rigor, ao menos, seletivo.
Redução dos beneficiados no Bolsa Família:
Neste indicador apresentado por José Alves, há uma redução de inscritos no programa social do governo federal, onde Campos dos Goytacazes, Rio das Ostras, Macaé e SJB apresentam reduções que variam entre 7 e 5%, sendo que Campos e Macaé são as que mais reduziram, e Rio das Ostras e SJB reduziram menos.
Redução da pobreza:
Aqui temos os indicadores que mostram a evolução da pobreza, relacionados ao PIB, número de habitantes, e número de beneficiados nos programas sociais.
Bem, cabem algumas considerações, de natureza lógica, já que os números parecem claros.
Dentre os municípios considerados, Campos dos Goytacazes é o maior em extensão territorial, o que, por certo, agrava as disparidades históricas e a implementação de políticas públicas em espaço tão disperso e desigual.
Isso não é uma desculpa, é um fato, mas que foi ignorado, de forma solene.
Outro ponto a ser considerado é que nenhum dos municípios, dos que foram relacionados, experimentou uma ruptura tão dramática e recente nas políticas de proteção social, como foi o caso de Campos dos Goytacazes, onde a administração de Rafael Diniz destruiu as redes de apoio sociais, bem às portas da pandemia, que encontraram uma população e uma economia totalmente vulneráveis.
Ainda arde da memória os efeitos dessa tragédia sobre as pessoas, e sobre a gestão pública, com atrasos nos pagamentos de servidores e fornecedores, sem mencionar a paralisia da dinâmica econômica local.
Por estranha coincidência, não mencionada no texto do Professor José Alves, o governo Rafael Diniz foi apoiado pelo PT, onde seu irmão sairá (enfim) candidato, e pelo grupo da oposição que tentou emplacar a deputada estadual no próprio PT.
Mais um detalhe “esquecido” por ele é que a deputada governou, e fez sucessora no município com os piores dados dos gráficos que ele apresentou, ainda que detenha quantias de recursos duas, três vezes maiores que os outros municípios, quando olhamos o valor do PIB por habitante disponível.
Claro que os números de Campos dos Goytacazes ainda estão longe do ideal, mas o Professor não diz, mas os números sim, é que a cidade é a única que reverteu a curva da pobreza, e recuperou sua capacidade de gerar empregos, com os altos investimentos públicos, e vem diminuindo sensivelmente os índices de pobreza, ao contrário dos municípios vizinhos.
José Alves de Azevedo Neto colocou em risco a própria coluna vertebral, ao fazer um contorcionismo tão severo, ao chamar a atenção a dados de pobreza no único município onde ela vem caindo, ao mesmo tempo que deixou de lado os dados comparativos com a cidade que foi governada por gente do PT, por onde seu irmão será candidato, e que ostenta uma pobreza africana.
Campos dos Goytacazes desponta, hoje, sempre entre as três primeiras na geração de empregos no Estado do Rio.
Também há o aumento da arrecadação tributária, que não soma os valores dos royalties, diminuindo a dependência nas receitas do petróleo.
Como se viu, há a mentira, a mentirona e as estatísticas.
Porém, não seria demais acrescentar outra categoria: José Alves Azevedo Neto.
