No julgamento desta quarta-feira (30), Ronnie Lessa, acusado de ser o executor do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, chocou o tribunal ao fornecer um relato minucioso da execução do crime. A sessão foi marcada pela frieza das declarações de Lessa, contrastando com a emoção visível dos familiares das vítimas, que acompanharam o depoimento com lágrimas e indignação.

Lessa, ex-policial militar, revelou que monitorou a rotina de Marielle por três meses antes de cometer o assassinato. Ele afirmou ter testado a submetralhadora com silenciador em áreas controladas por milícias para garantir o funcionamento adequado. Segundo seu relato, no dia do crime, ele e seu cúmplice, Élcio de Queiroz, seguiram o carro de Marielle e Anderson, posicionando-se para interceptá-los. “Eu posicionei a metralhadora, engatilhei e disparei,” detalhou Lessa, descrevendo uma “rajada curta” de cinco a seis tiros. Ele também confessou que descartou a arma em um córrego para eliminar vestígios.

A motivação, segundo Lessa, incluía uma quantia significativa oferecida por indivíduos de grande influência no Rio de Janeiro. Eles tinham interesse na morte de Marielle, reconhecida por seu trabalho em direitos humanos e contra a violência policial. Lessa afirmou que calculou cuidadosamente a decisão de aceitar a oferta. Embora tenha confessado sentir arrependimento após o crime, ele expressou que viveu em constante angústia ao esconder a verdade de sua família.
Familiares de Marielle se revoltam
Durante o depoimento, no entanto, familiares de Marielle e Anderson reagiram com visível tristeza e revolta. Mônica Benício, viúva de Marielle, deixou a sala por alguns instantes devido à intensidade emocional. Em entrevistas, ela e outros familiares expressaram a frustração com a demora no processo e a dor em ouvir o detalhamento frio do crime. “É uma ferida que nunca fecha, mas continuamos a luta por justiça”. A declaração é de Mônica, enfatizando a importância de responsabilizar todos os envolvidos, incluindo os possíveis mandantes.
Ativistas e representantes de organizações de direitos humanos também acompanharam o julgamento. A Anistia Internacional relembrou que o julgamento representa um passo importante, mas a justiça plena só ocorre quando todos os responsáveis, incluindo os mandantes, recebem a devida punição. Em frente ao tribunal, entretanto, manifestantes seguravam cartazes e pediam justiça, demonstrando que a comoção em torno do caso continua a ressoar em todo o país .
Por Jornal do Estado