Jogo político e influência da Alerj: os bastidores da mudança de lei e da troca de secretários da Polícia Civil do RJ

Por trás da mudança na Lei Orgânica da Polícia Civil, aprovada nesta quarta-feira (17) e da troca de secretários da corporação, existe uma disputa por cargos com grande interesse da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).

O atual secretário, José Renato Torres, colocou o cargo à disposição esta semana 21 dias após sua nomeação e 14 após a posse. O RJ2 apurou que José Renato começou a montar o time dele em uma reunião com mais quatro delegados, em um restaurante perto do TCM do Rio. Cada um ganharia uma função na cúpula da Polícia Civil.

Antenor Lopes Junior foi convidado para ser subsecretário operacional; William Pena seria o diretor de delegacias especializadas; Maurício Mendonça, o diretor das unidades da capital e Fábio Ferreira, o chefe de gabinete.

Dias depois, José Renato foi até a Assembleia Legislativa se reunir com o presidente da casa, Rodrigo Bacellar.

O delegado Antenor Lopes Junior, o preferido de Bacellar para ocupar um cargo na cúpula da Polícia Civil, também participou do encontro.

Na hora da nomeação, José Renato Torres não indicou Antenor Lopes Junior para o cargo de subsecretário operacional – revoltando o presidente da Alerj. Esse impasse deu início a uma crise entre o governo e a assembleia, que continuou até Torres entregar o cargo.

Outros pontos de conflito

O principal alvo da Alerj é um assessor em especial do governador, o vice-presidente do conselho de segurança, Fernando Cezar Hakme. O veto do nome do delegado Antenor é atribuído a ele.

Esse não foi o único ponto de conflito nas indicações de José Renato Torres. Ele também nomeou a delegada Marcia Xavier, subsecretária administrativa. Mas ela perdeu o cargo logo na primeira semana, após pressão da assembleia legislativa.

Marcia Xavier é casada com o também delegado Edu Guimarães, secretário do gabinete de segurança institucional de Claúdio Castro.

Por causa de toda essa pressão, José Renato Torres colocou o cargo à disposição, função que ocupou por menos de um mês.

E Claudio Castro decidiu mudar novamente o secretário de Polícia Civil e chamou o presidente da Alerj para participar da escolha. O encontro teve ainda outros dois secretários do governo e o destino da Polícia Civil foi selado em um almoço em um restaurante em Ipanema. O futuro secretário será o delegado Marcus Vinicius Amim.

Histórico do cargo

O cargo de secretário de Polícia Civil foi criado pelo ex-governador Wilson Witzel, que extinguiu a Secretaria de Segurança.

O primeiro secretário de Polícia Civil foi o delegado Allan Turnovski, que assumiu o cargo em setembro de 2020, logo depois de Cláudio Castro ocupar interinamente o poder, com o afastamento de Wilson Witzel.

Turnovski saiu em março de 2022, quando se candidatou para uma vaga na Câmara dos Deputados. Naquele mesmo ano, o delegado acabou preso por suspeita de organização criminosa e envolvimento com o jogo do bicho.

Segundo as investigações do Ministério Público estadual, Allan Turnowski recebia propina da contravenção e estaria envolvido num plano para assassinar o bicheiro Rogério Andrade. O Supremo Tribunal Federal revogou a prisão dele e Turnosvki responde ao processo em liberdade.

O segundo secretário de Polícia Civil de Cláudio Castro foi o delegado Fernando Albuquerque, uma indicação de Alan Turnovski. Ele tomou posse em abril de 2022 e permaneceu na função até o fim do mês passado.

Em julho, começaram as negociações para a escolha do novo secretário, o que despertou o interesse e deu início a uma disputa entre o executivo e o legislativo.

O nome escolhido foi o do delegado José Renato Torres, que estava afastado da Polícia Civil havia 17 anos.

Ele tinha sido cedido para o Tribunal de Contas do Município, onde coordenou o departamento de segurança do órgão.

Fonte: G1