Advogada especializada em Direito Tributário, Priscila Sakalem foi nomeada na semana passada Secretária estadual de Transporte e Mobilidade Urbana, depois de uma saída tumultuada do ex-prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis (MDB) do cargo. Reis foi exonerado do cargo pelo então governador em exercício e presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União), quando o governador Cláudio Castro participava de um seminário jurídico organizado pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em Lisboa.
Priscila evita dar prazos precisos para a maior parte dos projetos relacionados à bilhetagem eletrônica; licitação dos ônibus intermunicipais, cuja frota seria integralmente equipada com ar condicionado; expansão do metrô; e tarifa única serem viabilizados. Mas espera que as definições ocorram ainda neste semestre. Ela explicou que esses projetos ainda passam por análise jurídica, ou dependem de recursos federais ou do desfecho de decisões judiciais.

A exceção é para o bondinho de Santa Teresa, que deve voltar a circular em agosto até o Silvestre, se integrando ao trenzinho do Corcovado, depois de décadas. Confira abaixo os principais pontos da entrevista:
No fim de maio, o ex-secretário Washington Reis disse que o governo do estado estudava reduzir para R$ 4,70 as passagens de trem e metrô, assim como foi feito nas barcas, em março, que já pratica esse valor. Já está confirmado esse valor e a partir de quando?
Estamos estudando. O compromisso do governador é que a gente tente fazer com que a tarifa seja a menor possível nos serviços intermunicipais (metrô, trens e ônibus), levando em conta o cenário de que o estado precisa ter responsabilidade fiscal e oferecer um serviço de qualidade. O objetivo é que o transporte pese menos no bolso da população, e que haja uma melhor mobilidade, para as pessoas se deslocarem no menor prazo de tempo
Nas barcas, já conseguimos, na gestão do ex-secretário Washington Reis, pois teve previsão orçamentária e estudo de viabilidade econômica.
Essa tarifa única poderia ser estendida para outros modais administrados pelas prefeituras da Região Metropolitana, incluindo ônibus, BRTs, VLTs e vans?
Todas as reduções de tarifas vão ser estudadas. Mas o compromisso do governador Cláudio Castro é com a tarifa dos modais metropolitanos (intermunicipais).
Em fevereiro, o estado prometeu licitar, ainda no primeiro semestre, um novo sistema de bilhetagem digital que permitisse uma integração com o Jaé que está substituindo o Riocard na capital. O edital não saiu. Em que fase se encontra esse projeto?
São questões distintas. O governo do estado celebrou um acordo judicial no âmbito de uma ação civil pública para implantar um novo modelo de bilhetagem eletrônica, que também não poderá ter a participação do Riocard. A gente já tem uma modelagem definida para atender aos serviços intermunicipais, desenvolvida com apoio da Coppe/UFRJ. Mas, para abrir a licitação, ela tem que ser homologada na Justiça, o que a gente espera que ocorra ainda neste semestre.
A outra questão, que envolve o Jaé, é que o sistema tenha interoperabilidade, de modo que diferentes cartões sejam aceitos nos validadores. Esse é um segundo momento da bilhetagem. Nesse processo, estamos pensando em um modelo que atenderá a cerca de 20 municípios (e não apenas a capital), de modo a não afetar a rotina da população. Nosso compromisso é que o processo não traga nenhum trauma para população. É como se a gente tivesse trocando uma roda de um carro em movimento.
O Departamento Estadual de Transportes Rodoviários (Detro) concluiu, em dezembro de 2024, uma minuta para fazer a licitação dos ônibus intermunicipais. Uma das exigências é que toda a frota seja climatizada. Por que essa licitação ainda não foi aberta?
O que eu posso dizer é que vamos licitar as 1.100 linhas. Esse é um compromisso do governador com a Região Metropolitana. O edital ainda vai para análise jurídica da Procuradoria Geral do Estado (PGE).
No fim de setembro, vence o prazo estabelecido em acordo judicial, firmado em dezembro de 2024, para que a SuperVia continue a operar os trens. Já existe um modelo de como ficará a operação dos dos trens? Será renovado?
O acordo previu que o estado aplicasse R$ 300 milhões no transporte ferroviário, dos quais R$ 100 milhões já foram investidos. Para a SuperVia deixar o sistema, depende de a Justiça agendar um leilão para que ela venda seus ativos. Um deles é (o direito de assumir) o prazo restante do contrato de concessão (que vai até 2048). O prazo é setembro, mas não acredito que a SuperVia abandone o serviço (se houver necessidade de prorrogação).
Em abril, o governador Cláudio Castro fechou um acordo para retomar as obras da estação da Gávea. Em que fase se encontra o projeto? Já começou o esvaziamento da estação, que por questões técnicas está submersa desde 2017?
Estão ocorrendo análises e estudos para a retomada da obra. O início do esvaziamento está previsto para agosto e deve levar pelo menos quatro meses. O estado faz a fiscalização dessa obra para garantir que o prazo de 36 meses celebrado no contrato seja observado.
E em relação à expansão do Metrô? É possível que algum projeto fique pronto para licitar até o fim do governo (dezembro de 2026)?
A gente tem três frentes em análise, mas até o fim do governo provavelmente não começariam obras. O projeto mais avançado é o da Linha 3, que será o primeiro serviço intermunicipal, conectando Rio, Niterói e Guaxindiba (São Gonçalo). O Ministério das Cidades destinou, por meio do PAC, R$ 20 milhões para o projeto. Os outros dois projetos são a extensão da Linha 2 (ligando Estácio à Praça Quinze, para desafogar a Linha 1. E a expansão da Linha 4, do Jardim Oceânico até o Recreio, onde a expectativa seria transportar até 360 mil passageiros por dia.
Nesse processo, alguma entrega à vista?
O bondinho de Santa Teresa deve voltar a circular até a Estação Silvestre em agosto, fazendo a integração com o trenzinho do Corcovado, depois de 20 anos. E a procura pelo serviço tem sido grande. Sábado passado, batemos o recorde de 3.441 embarques desde que o serviço foi retomado. O estado já fez um investimento de R$ 70 milhões no bondinho.
A senhora tem um perfil técnico. Como foi assumir uma secretaria que está no centro de uma discussão política?
Eu já trabalhava no gabinete do governador como assessora para assuntos de mobilidade e participei da modelagem da nova concessão da SuperVia e da discussão sobre a bilhetagem eletrônica. O governador só me contou no dia em que divulgou meu nome. Fiquei muito honrada com a confiança que depositou em mim. O objetivo é dar andamento aos projetos que a secretaria já vinha tocando.
Fonte: O Globo